TEA: Entendendo o que é nível de suporte
- Dr Luigi Fernando
- 2 de mar.
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de mar.
Quando exploramos o universo neurodiverso, especialmente relacionado ao Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), é importante compreendermos que o autismo se manifesta de forma única em cada indivíduo. Nenhuma pessoa autista é exatamente igual a outra, mas para orientar intervenções e apoios adequados, profissionais utilizam critérios importantes que definem níveis de suporte baseados nas necessidades individuais específicas. Isso garante que cada indivíduo receba recursos voltados às suas habilidades e desafios pessoais.

Para compreender melhor esses diferentes níveis de suporte, precisamos entender primeiramente o que significa apoio no contexto do autismo. Apoio refere-se a tudo aquilo que auxilia uma pessoa neurodivergente a realizar atividades cotidianas, engajar-se nas interações sociais, cuidar da saúde emocional e física e desenvolver autonomia e independência. Cada pessoa pode necessitar de diferentes níveis e tipos de suporte ao longo da vida dependendo de fatores como contexto social, ambiente familiar, escolar, laboral e os desafios específicos relacionados ao autismo.
O manual diagnóstico DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição) estabelece três níveis distintos de suporte que são determinados pelo grau de impacto que as características do TEA têm nas habilidades sociais, comunicativas e comportamentais de uma pessoa. Esses níveis são frequentemente utilizados como uma forma de definir o tipo e a quantidade de auxílio necessários para cada indivíduo com TEA.
O primeiro nível, chamado Nível 1 (com necessidade de suporte), indica que a pessoa pode apresentar dificuldades na comunicação social e interações, especialmente em contextos complexos ou pouco previsíveis. Geralmente, indivíduos desse grupo são capazes de desenvolver algumas estratégias pessoais para lidar com determinadas situações sociais, mas podem enfrentar desafios específicos relacionados à regulação emocional, percepção de nuances sociais e função executiva – como a organização e gestão do tempo. Nestes casos, oferecer suporte frequentemente envolve auxiliá-los no desenvolvimento de habilidades sociais e estratégias de enfrentamento emocional, ajudando também na organização e planejamento das rotinas cotidianas.
Já no Nível 2 (com necessidade substancial de suporte), as dificuldades em habilidades sociais e comunicação costumam ser mais evidentes e desafiadoras, resultando frequentemente em interações limitadas ou reduzidas. Pessoas neste nível podem ter certa dificuldade em entender estímulos sensoriais complexos, apresentando maior risco para sobrecarga sensorial, devido a dificuldades no processamento sensorial. Desafios consideráveis na função executiva e um nível significativo de rigidez comportamental, questões relacionadas à rotina e a necessidade de repetição de ações como mecanismo de segurança são observados. Neste contexto, o suporte intensificado foca em maior intervenção terapêutica, acompanhamentos frequentes e comunicação clara e estruturada, além do cuidado específico com o ambiente para evitar sobrecargas sensoriais.
Por fim, o Nível 3 (com necessidade muito substancial de suporte) inclui indivíduos que necessitam de uma forma de respaldo intenso e abrangente ao longo de sua vida, com maiores limitações na comunicação verbal ou não verbal e desafios extensos na interação social. Frequentemente existe interação restrita ou altamente limitada, e as dificuldades de processamento e regulação sensorial são particularmente mais profundas e persistentes. Pessoas neste grupo têm uma necessidade constante de supervisão e intervenções especializadas para comunicação, diminuição de possíveis comportamentos de risco e adaptação segura e adequada dos ambientes onde vivem. O suporte neste nível abrange estratégias especializadas multidisciplinares, ambientes cuidadosamente estruturados, intervenções sensoriais direcionadas, supervisão e acompanhamento constante para garantir o bem-estar físico e emocional.
Independentemente do nível, é fundamental lembrar que esses classificações e terminologias são ferramentas essenciais apenas para orientar equipes terapêuticas e familiares sobre como apoiar e compreender as necessidades específicas de cada indivíduo autista. Diagnósticos e níveis de suporte são entendidos como orientações técnicas e nunca devem reduzir a riqueza da existência única de qualquer indivíduo. É essencial promover continuamente uma abordagem inclusiva, empática e baseada nos direitos humanos, valorizando a diversidade como riqueza e buscando um mundo onde todas as pessoas neurodivergentes possam viver plenamente com dignidade, respeito e aceitação autêntica, destacando sempre a importância de focar nas potencialidades individuais inseridas nas particularidades dessa condição.
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