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Além dos transtornos: como a neurodivergência enriquece a humanidade

Atualizado: 4 de mar.

Quando falamos em neurodivergência, é comum surgir questionamentos sobre o que, exatamente, compõe essa realidade tão diversa e multifacetada. Muitos ainda se perguntam: será que ser neurodivergente significa, necessariamente, ter um transtorno? Para responder a esta pergunta, precisamos antes entender um cenário mais amplo sobre o significado da neurodiversidade.


Diagnóstico não é sinônimo de transtorno. É possível ser autista sem ter TEA.
Diagnóstico não é sinônimo de transtorno. É possível ser autista sem ter TEA.

A neurodiversidade parte de uma perspectiva abrangente e inclusiva, propondo uma visão de que nosso cérebro e suas diferentes formas de funcionamento fazem parte das naturais diversidades humanas. Assim como há diversidade em culturas, idiomas, estilos ou personalidades, há também diversidade neurológica – diferentes maneiras de processar informações, perceber o mundo e interagir com ele. Nesse contexto, pessoas que não se encaixam num padrão ""típico"" são chamadas neurodivergentes.


E, de fato, o termo neurodivergente inclui indivíduos com uma gama de características diferentes. Entre essas características estão condições como o Autismo (ou Transtorno do Espectro do Autismo - TEA), transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), altas habilidades ou superdotação, transtornos do processamento sensorial, entre outras particularidades neurológicas.


Mas isso quer dizer necessariamente que todas essas pessoas tenham “transtornos”? A resposta pode não ser tão simples assim. Muitos especialistas e membros das próprias comunidades neurodivergentes têm destacado que o conceito de transtorno pode acabar reforçando visões limitantes ou negativas sobre diferenças neurológicas. Em vez disso, a neurodivergência pode ser compreendida como uma manifestação distinta e válida do cérebro humano, com pontos fortes únicos, como o hiperfoco, a criatividade ou a capacidade de raciocínio excepcional em certas áreas – e também desafios específicos, como dificuldades com habilidades sociais, funções executivas ou regulação emocional.


É claro que algumas das características associadas à neurodivergência estão, sim, descritas tecnicamente como transtornos nos manuais médicos e científicos tradicionais (por exemplo: Transtorno do Espectro do Autismo, Transtorno de Processamento Sensorial). Porém, é crucial observar que essa terminologia não implica um julgamento moral ou diminuição da capacidade dessas pessoas – ela simplesmente reflete uma maneira particular de funcionamento cognitivo e sensorial, trazendo vantagens únicas e desafios específicos.


Quando enxergamos a neurodivergência apenas sob o prisma do "transtorno", podemos limitar nosso entendimento ao focar exclusivamente nos aspectos negativos, patologizando algo que, na verdade, faz parte de nossa riqueza como humanidade. Por outro lado, acolhendo a perspectiva positiva da neurodiversidade, contribuímos para uma inclusão mais ampla e profunda. Estamos falando de ambientes sensorialmente amigáveis, aceitação do autismo e de outras características neurodivergentes nas escolas e locais de trabalho, estratégias de adaptação para acolher estilos diversos de função executiva e socialização, além de proporcionar recursos adequados para apoiar regulações emocionais individuais, prevenindo sobrecargas sensoriais e emocionais.


Vale mencionar também que a neurodivergência frequentemente acompanha comorbidades diversas – ansiedade, depressão, dificuldades de sono ou síndrome do burnout. No entanto, tais comorbidades são desafios adicionais a serem manejados cuidadosamente, não implicando que a neurodivergência em si seja sempre um transtorno em sentido amplo.


O importante a se considerar é que cada indivíduo possui vivências únicas e que sua condição neurológica, seja ela descrita como transtorno ou apenas como uma diferença natural e benéfica à diversidade humana, carrega valor humano inestimável. O que deve prevalecer, portanto, é uma reflexão cuidadosa e empática sobre o que essas terminologias significam e sobre como devemos lidar com elas no cotidiano e na sociedade – investindo em acessibilidade sensorial, respeito pela diversidade cognitiva e reconhecimento das potencialidades das pessoas neurodivergentes.


Afinal, neurodivergência é, acima de tudo, uma expressão válida, legítima e valiosa da diversidade humana. E cabe a todos nós acolhê-la com respeito, compreensão e sensibilidade.

 
 
 

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