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Neurodivergência: um construto científico ou social?

Atualizado: 2 de mar.

Ao mergulhar na nossa compreensão sobre as particularidades da mente humana, temos testemunhado uma importante evolução na maneira como percebemos, valorizamos e nos relacionamos com diferenças neurológicas. Em meio a essa evolução, surgiu um termo cada vez mais presente nas conversas sobre inclusão, educação e saúde mental: a neurodiversidade. Porém, será esse conceito um fenômeno científico, com bases biológicas sólidas, ou uma criação puramente social e filosófica?

Construto social: Conceito criado pela sociedade para organizar ideias, comportamentos ou valores (ex.: gênero).. Construto científico: Conceito teórico desenvolvido para explicar fenômenos e orientar pesquisas (ex.: inteligência).
Construto social: Conceito criado pela sociedade para organizar ideias, comportamentos ou valores (ex.: gênero).. Construto científico: Conceito teórico desenvolvido para explicar fenômenos e orientar pesquisas (ex.: inteligência).

Para respondermos a essa indagação, precisamos primeiro compreender o que a palavra realmente expressa. Neurodiversidade refere-se à variação natural existente entre os cérebros humanos. Assim como cada indivíduo tem talentos variados, diferenças fisionômicas ou gostos peculiares, também há uma diversidade considerável na maneira como processamos informações, sentimos emoções e percebemos estímulos sensoriais. Se, por um lado, algumas pessoas podem possuir habilidades excepcionais de concentração (conhecidas como hiperfoco) ou talentos extraordinários em matérias selecionadas (comuns em pessoas autistas ou com altas habilidades/superdotação), por outro lado, muitos enfrentam dificuldades em áreas socialmente valorizadas como habilidades sociais ou expressão emocional, tornando sua jornada frequentemente mais complexa.


Neurodiversidade refere-se à variação natural existente entre os cérebros humanos. Assim como cada indivíduo tem talentos variados, diferenças fisionômicas ou gostos peculiares, também há uma diversidade considerável na maneira como processamos informações, sentimos emoções e percebemos estímulos

A ciência vem acumulando diversos estudos que reforçam o fato de que essas diferenças na estrutura cerebral são reais e biologicamente mensuráveis. Sabemos, por exemplo, que o autismo envolve configurações neurológicas específicas, responsáveis por características singulares de percepção e processamento sensorial. Indivíduos autistas podem experimentar sobrecarga sensorial diante de estímulos cotidianos que seriam banais para outras pessoas, ou ainda necessitar de estratégias particulares de regulação emocional para lidar com ansiedade, frustração ou alterações na rotina. O transtorno do processamento sensorial também evidencia a diversidade do sistema neurológico: algumas pessoas são altamente sensíveis ou avessas a certos estímulos, enquanto outras podem procurar ativamente estimulação sensorial.


Além disso, pesquisas recentes trouxeram contribuições precisas sobre as diferenças em funções executivas – aquelas capacidades cognitivas que nos permitem organizar, planejar e executar tarefas. Indivíduos neurodivergentes, como aqueles diagnosticados com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ou com espectro autista, frequentemente apresentam particularidades na maneira de desempenhar essas funções executivas. São variações neurológicas medidas cientificamente, com evidências obtidas por imagens cerebrais e avaliações neuropsicológicas.

Mas, embora tais diferenças possam ser descritas em termos neurológicos ou biológicos, o reconhecimento e valorização dessas particularidades têm se dado em um contexto social.

Historicamente, as pessoas neurodivergentes foram frequentemente marginalizadas por não se encaixarem nos moldes esperados de comportamento, interação social ou produtividade. Essa exclusão social é fruto de padrões culturais rígidos e restritivos, e ainda hoje pode ser observada de maneira preocupante em espaços educacionais ou laborais. Ao ressignificar essas diferenças sob a perspectiva da neurodiversidade, começamos a reconhecer a relevância do contexto social, construindo práticas inclusivas para acomodar toda a diversidade de formas de aprender, sentir, comunicar e processar.


Dessa forma, podemos compreender que o conceito da neurodiversidade integra, simultaneamente, aspectos científicos e sociais. Ele valida e abraça diferenças biológicas reais para promover uma visão mais ampla e plural, motivando que escolas, locais de trabalho e espaços sociais se adaptem às necessidades e potencialidades diversas. Esse entendimento leva a ambientes mais enriquecidos, empáticos e acolhedores que respeitam diferenças em habilidades sociais, funcionamento cognitivo, regulação emocional e percepção sensorial.


Assim, respondendo de forma indireta à nossa questão inicial, podemos dizer que a neurodiversidade é um campo onde ciência e sociedade se encontram e dialogam. A ciência oferece as bases sólidas, biológicas e clínicas, enquanto a sociedade escolhe como reconhecer, acolher e valorizar esses múltiplos modos humanos de ser, criando oportunidades autênticas para uma inclusão realmente significativa e transformadora.

 
 
 

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